quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Comentários de 'Tratado Político' de Spinoza

A filosofia também é política. Não somente tendo dado origem a maior parte das ciências a filosofia originalmente aborda conceitos de aplicação política como o ensaio 'A República' de Platão. Outro exemplo ainda hoje muito abordado pelo grau de influência histórica está o controverso Baruch Spinoza do qual teço comentários de seu 'Tratado Político' a partir de trechos selecionados. 

"Com efeito, a condição de uma sociedade onde as causas de sedição não foram suprimidas, onde a guerra é continuamente de temer-se, onde, enfim, as leis são frequentemente violadas, um tal estado difere pouco da condição natural em que cada individuo leva uma vida conforme sua fantasia e sempre grandemente ameaçado."
Tratado Político - Spinoza, Baruch - P.61

Da teoria ao conhecimento da realidade fica evidente nas citações o motivo pelo qual fracassa o projeto humano da sociedade aberta e livre. Se antes modelos antigos e ultrapassados de Estado estavam a mercê dos julgamentos ao sabor de um soberano ou pequeno grupo de soberano, se torna mais coerente e sensato se estabelecer leis as quais ao invés de julgar o que decidir as aplicam por autoridades constituídas. Tal como Deus poderia atuar direta ou indiretamente em todas as coisas seria mais fácil este criar leis físicas que os façam por si. De modo similar o Estado democrático usa das autoridades por ele constituída para interpretar as leis e julgar os fatos com maior equidade e objetividade possível afim de manter a ordem social e a imparcialidade da justiça. Quando não ocorre o mesmo o resultado é conhecido ainda que encoberto.

"A paz é a virtude que nasce do vigor da alma, e a verdadeira obediência , é a vontade constante de executar tudo que deve ser feito segundo a lei comum do Estado. Assim, a sociedade onde a paz não tenha outra base que a inércia dos cidadãos, os quais se deixam conduzir como rebanho e não se exercitam senão na escravidão, não é uma sociedade, é um ermo, uma solidão."
(...) uma multidão subjugada, ao contrário, é conduzida pelo temor mais que pela esperança. Aquela esforça-se por cultivar a vida. Esta só procura evitar a morte. A primeira quer viver por si mesma, a segunda é constrangida a viver para o vencedor."
Tratado Político - Spinoza, Baruch - P.62

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