domingo, 25 de junho de 2017

Um Relato: Ter Síndrome de Asperger Vale a pena?

Muitos portadores da variável leve do autismo questionam se é uma doença por oferecer alguns privilégios em relação aos demais, mas será que vale a pena ter Síndrome de Asperger? Bom, recebi o diagnóstico tardiamente de modo que apenas nos últimos anos recebi tratamento adequado a isto. Passei por várias saias justas por não ter um comportamento sempre ajustado socialmente sem contar os inúmeros bullyings e discriminações por cosias similares ao longo de minha vida, de maneira que se recebesse um diagnóstico e tratamentos adequados antes teria me poupado muito sofrimento e discriminação que ainda assim não deixei de passar.

O diagnóstico permitiu que eu me conhecesse melhor e assim compreendesse os motivos de muitas vezes sentir-me desconfortável em situações entre amigos, mulheres e sociais, mas sem ajuda as dificuldades que no meu caso normalmente eram as que exigiam maior contato pessoal e íntimo teria melhorado não somente minha qualidade de vida como proporcionado melhor desenvolvimento em minhas aptidões. Dentro dessas colocações naturais um portador da síndrome pode desenvolver-se não somente plenamente como flertar com a genialidade, coisa que alguns momentos evidentemente consigo nas áreas o qual tenho foco e aptidão. Mas os danos na minha vida social e principalmente sentimental são profundos, não bastando uma sociedade hostil e falocêntrica em que a competição desigual de alguns do sexo masculino, normalmente NTs, não tem limites morais ou éticos.

Foram vários os focos de assuntos de interesse desde minha infância. O primeiro fora certamente carros o qual meu avô materno ensinou a conhecer e saber todas as marcas e modelos de veículos de modo que hoje conheço alguns carros ainda pelo som do motor. Posteriormente, no começo da adolescência, outro assunto o qual tive grande "hiperfoco" fora os dinossauros me levando a decorar os inúmeros nomes de animais pré-históricos e devorando tudo que era produzido sobre, filmes como 'Jurassic Park' lançado na época assisti mais de 15 vezes. Outro foco vivo na época era com videogames de modo que detonei mais de 150 jogos de Mega Drive e Playstation One. 

Quando adulto os focos foram se diversificando mais, o que na juventude era um foco no cinema - ainda hoje entendo muito sobre assim como os nomes que os fazem - tornou a assuntos como filosofia despertado por Matrix em 1999, a astronomia, história e mecânica quântica.
O gosto pela literatura veio desde criança por amor a leitura e posteriormente na escrita inicialmente compilando ideias e assuntos de mistério que me interessavam até que por insatisfação com alguns filmes comecei a criar formas de histórias próprias e originais.

Por ter hábito de escrever desde adolescente quando no colegial escrevia para um jornal universitário tão logo se tornou uma habilidade que aos poucos entendidos que conhecia meu trabalho era de qualidade, de modo que passei a escrever compulsivamente., de 2008 à 2017 escrevendo cerca de 40 livros, de novelas, antologias e não ficção ainda que considere apenas a metade como meu melhor.

Mas tinha outras habilidades, normalmente visuais. Inicialmente eram os desenhos que logo chamavam atenção no colegial pela riqueza de detalhes e profundidade assim como por traduzir minha visão do que via com notável aproximação. Portanto segui o rumo do desenho artístico sendo posteriormente abandonado por um gradativo bloqueio de maneira que hoje essa habilidade visual volta-se mais para o design de capas de livros e logotipos e fotografia com que trabalhei por dois anos num evento cultural.

Laudo recebido em 2017.

Mas se tinha vocações bem acima do normal minha coordenação típica disto é terrível. Sempre o último a ser chamado a jogar futebol e alvo de chacota dos colegas nunca tive a menor capacidade de conseguir dançar num dos sintomas mais berrantes do asperger que repercute até mesmo no simples fato de amarrar o sapato.

Porém, nunca tive tantos problemas ao toque, mas quando criança odiava e tinha nojo de ser beijado assim como pessoas que apertam, seguram e etc, ainda que a maior dificuldade seja manter um contato visual natural e espontâneo continuadamente. Quando me dei conta dessa dificuldade no final da adolescência - justamente quando comecei a desconfiar do que tinha - a situação piorou, forçar olhar para as pessoas em dados momentos era trágico levando-as a mil interpretações enganosas dessa fraqueza pessoal. Minha sensibilidade no olhar é tanta que muitas vezes o mero vento ou luminosidade me irrita me levando a fechar os olhos e lacrimejar, similarmente a poluição sonora.

Naturalmente que com o tempo vamos nos acostumando e mascarando melhor os sintomas, se ainda demoro um pouco para interpretar linguagem figuradas, hoje consigo eu mesmo faze-las ainda que eventualmente se torne evidente tal como ter sido conhecido por fazer "trocadilhos toscos" por confusões que tinha com nomes, como o ponto turístico do Rio "Pão de açúcar" que achava ser literalmente um grande pão de açúcar e por ai vai. Mas a partir disto na fase adulta desenvolvi uma curiosa dose de sarcasmo o que normalmente não é comum entre os que estão no espectro autista ainda que tenham alguns que conheço que o fazem. Há outros detalhes característicos como morder o lençol e roupa, normalmente quando estou deitado, assim como ter alguns tiques repetitivos o que é bem menos frequentes e não sei se tem relação.

Outro aspecto que acho interessante é uma compulsão que tenho por colecionar coisas o qual tive ou tenho foco. De figurinhas de chocolate surpresa, a selos, moedas, tazos, kinderovo e até mesmo fósseis, hoje tenho 130 livros (sendo que li mais de 250) e mais de 200 dvds de filmes originais.

Obviamente que a Síndrome de Aspeger me satisfaz no quesito intelectual (tenho QI de 130), ler e pesquisar as coisas que gosto assim como minhas vocações são prazeres de qualidade superior ao normal, mas pelo dano que tenho na vida sentimental e social, confesso que as vezes desejo trocar tudo por tê-las como qualquer pessoa, pois minhas vocações nunca me trouxeram dinheiro ou reconhecimento.

Hoje sinto-me muito a vontade entre pessoas que possuem iguais síndromes tanto que participo de grupos no whatsapp e facebook e considero os mais próximos de mim atualmente, pois tenho uma vida basicamente solitária e reclusa. Uma das minhas maiores lastimas é não ter tido diagnóstico ainda na infância, talvez minha vida seria muito melhor.

A lei 12.764 de 27 de dezembro dá amparo especial aos portadores de Síndrome de Asperger, para ler a lei na íntegra acesse aqui.

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