domingo, 29 de março de 2020

A Metáfora da Libertação de 'O Poço'

'O Poço' é simplesmente genial. Não vejo metáfora melhor desde 'O Expresso do Amanhã'. O filme demonstra sensacionalmente um lugar que é construído para literalmente corromper o ser humano, um teste para os sábios e uma armadilha para os tolos, tal como é o sistema estabelecido hoje na sociedade. A crítica vai na contramão dos maus instintos da ganância, cobiça, inveja dos que buscam a todo custo subir de vida estabelecendo uma corrente egoísta onde os de cima tiram dos debaixo, sendo os de cima maus por serem egoístas e os debaixo por causa do egoísmo deles como rompimento dos próprios preceitos sociais que fundaram a sociedade, a solidariedade. O filme assim representa sobretudo a ideia de voltar as bases da empatia que tornaram possível o surgimento da sociedade. Algo conduzido na narrativa com maestria. Há inúmeras referências como a do protagonista encarnar um Jesus como apologia da divisão dos alimentos indo literalmente até fundo dessas bases sociais por amor, partindo do preceito empático de que hoje ele pode estar encima e um embaixo, mas amanhã embaixo e o outro encima. Também manifesta com habilidade uma crítica contundente as estruturas hierárquicas da sociedade ao referenciar as piramides sob a figura do cão Ramsés II, curiosamente também vítima disso tudo, mas uma pista importante. A medida em que desce como o inferno vai se tornando até que no fim, no limite, ele parece encontrar o nirvana da chave da morte, a libertação. Libertação sobretudo dos maus instintos...

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