quarta-feira, 8 de março de 2017

Comentários de 'Cemitério de Praga' de Umberto Eco

O livro 'O Cemitério de Praga' do póstumo Umberto Eco traz uma discussão muito intrigante sobre conspirações que toca no aspecto discriminatório a exemplo do antissemitismo, num embate secreto entre o catolicismo e a algumas sociedades secretas por vias consideradas pouco moralmente aceitas. 

Dos famigerados 'Protocolos de Sião' que são uma fraude escrachada - além de plágio de baixa qualidade, de um conto que criticava governos distópicos - servem de munição a uma generalização que como todas a exemplo de raças nada mais são que falácias, neste caso racistas, ainda que seja evidente no mundo de hoje uma trama insidiosa por parte das elites bancárias e, muito provavelmente, do sionismo.

O livro de Eco que ficou conhecido pelo rigor histórico parece descrever dentre outras coisas uma reunião secreta de uma seita judaica que conspira pela dominação do mundo num cemitério em Praga (onde dar-se o título do livro), o evento que creio ter sido real leva a uma série de diálogos. Segue abaixo algumas citações do livro:

"...a impiedade dos judeus em arruinar famílias, desonrar e jogar viúvas e anciãos na miséria depois de lhes sugar o sangue mediante usura."
p.222

"A falta de piedade pelas classes inferiores e a exploração do pobre por parte do rico, segundo o Kahal, não são crimes, mas virtudes, quando praticadas por um filho de Israel. Alguns dizem que especialmente a Rússia os judeus são pobres: é verdade, muitíssimos judeus são vítimas de um governo oculto dirigido pelos judeus ricos. Não luto contra os judeus, eu que nasci judeu, mas contra a ideia judaica que deseja substituir o cristianismo."
p.215 


Umberto Eco sabia das coisas e compreendia a cerne do problema a exemplo do eterno retorno de Cristo como sacramentação satânica, troca-se a hóstia, coloca-se alguém com as condenáveis vãs repetições bíblicas. Olhem esse trecho de 'Cemitério de Praga':

"- Magnificado seja Lúcifer, cujo nome é Desventura. Ó mestre do pecado, dos amores inaturais, dos benéficos incestos, da divina sodomia, Satanás, é a ti que adoramos! E tu, ó Jesus, eu te forço a te encarnares nesta hóstia, de tal maneira que possamos renovar teus sofrimentos e mais uma vez atormentar-te com os cravos que te crucificaram e perfurar-te com a lança de Longino!"
P.424

O livro parece chegar a uma interpretação comum de uma filosofia inferior de segregação, aflição e abismos similarmente a demonstrada pelo livro '1984' de George Orwell em trechos que falam de se criar um "inimigo" apenas para massacra-lo constantemente e assim justificar a posição dos maus que, no entanto, advogam a posição de heróis. Carlos Ruiz Zafon sintetizou similarmente essa premissa em seus livros o qual uma tentativa de transferir moralmente suas incapacidades (principalmente morais e éticas) a seu alvo de desafeto e animosidade discriminatória.

Como há miseráveis ricos e ricos miseráveis! Por vezes a centelha básica é um sentimento que nutrido pela diferença esfacela suas vítimas na superiorizarão de si próprio, a diferença central de um ódio hierárquico raiz de toda discriminação: a inferiorizarão alheia. Com a palavra Umberto Eco através de seus personagens em 'O Cemitério de Praga'.

"...o senso de identidade se baseia no ódio, no ódio por quem não é idêntico. É preciso cultivar o ódio com paixão civil. O inimigo é o amigo dos povos. É sempre necessário ter alguém para odiar, para sentir-se justificado na própria miséria. O ódio é a verdadeira paixão primordial. O amor, sim, é uma situação anômala."
p.70

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