Quando comecei a ler os quadrinhos do Batman na adolescência o que mais me atraiu inicialmente fora os contornos sombrios de Gotham City que parecia elevar a cidade a uma quase entidade viva, uma máquina que produz seus próprios males. As implicações psicológicas dos personagens surgidos desse meio social doentio emergiam em vilões com profundidade psicológica como as sombras longas e tortuosas que os prédios da icônica cidade lançava como uma fábrica de desajustados, deformados sociais, e toda sorte de doentes, doentes o qual mesmo o Batman o era ainda que despontando como herói. 'Joker' de Joaquim Phoenix não é diferente, um filme perturbador intencionalmente, um soco no estômago da sociedade ainda que personificada na caricatura de Gotham. Mostra sobretudo como a discriminação que assombra cria seus próprios monstros como sombras de seus próprios atos.
Infeliz a nação que precisa de heróis, afinal usar fantasias pelas ruas num dia comum pode ser o sinal de algum desajuste dissociativo da realidade, quando não a realidade que é dissociada. A resposta a toda atroz tirania muitas vezes é a anarquia gerada pelas verdadeiras feridas que fazem diferença, as da mente. Coriga assim desponta como uma resposta a uma sociedade doente, não para reproduzir os próprios males que sofreu, mas para expor o bizarro que Gotham é. Ainda que possa não ganhar o Oscar, no mínimo a indicação ao Oscar de melhor ator merece.
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