O povo brasileiro ainda que com uma memória seletiva e
letárgica é carente de representação de heróis pelo qual ao menos lhes dê a
esmola de esperança ante as angústias de uma realidade hostil e perpetrada de desigualdade e por
abusos de poder e corrupções em todas as esferas, e não somente políticas. E a
carência acaba sendo irmã da parcialidade.
Um dos expoentes disso é Aryton Senna, um homem que mesmo a
despeito de suas condições financeiras abastadas se tornou um vencedor nos
esportes pela determinação e honestidade. Mas nota-se que nos esportes aos
participantes é um importante mecanismo de inclusão e cidadania e por isso
defendo o mesmo em comunidades pobres. Mas quando o mesmo se torna alvo de
representações que efetivamente não traz melhorias a sociedade, afinal o pobre
continuará na pobreza, o marginalizado na marginalidade, os esportes tornam-se
um ópio de ilusões onde estes rejeitados da sociedade se projetam nele inconscientemente
como se a vitória dele significasse algo para si, mas não significa. Mas desde quando a vitória do Flamengo vai melhorar minha vida?
Herói é
quem salva vidas alheias, não a própria apenas, mas na ausência de um
representante político que realmente tenha a oportunidade de fazer algo para o
povo não faça, abraça-se quem não faz como representante. Alguém dos esportes representa o brasileiro porque os políticos que são pagos para isso não são capazes.
Mas não se trata de ser parcial, Ayrton era honesto e sabia
vencer sem necessitar humilhar e desdenhar de seus concorrentes de modo que o
exemplo ético fica, além de ter sim instituições de caridade (seja fachada ou
não). Porém, ainda que todo o culto em torno dele é um exagero indicando uma história
que ofusca a de outros brasileiros que sem dúvidas foram muito mais importantes
a exemplo de Rondon que desbravou, passou telégrafos pelo Brasil, estabeleceu
cidades, fronteiras e relações com índios até então desconhecidos. Mas a
história ainda que tenha lhe dado um estado com seu nome, não é ensinado nas
escolas com o mesmo peso de um Ayrton Senna. Por qual motivo?
Tudo porque limita-se aos resquícios do positivismo o qual a
história tem a predominância da perspectiva vigente, o famoso bordão: quem
vence escreve a história, muitas vezes subscrevendo a história de muitos que
sem igual reconhecimento padecem num ostracismo ou até mesmo pior a exemplo do
patrono de minha família no Brasil, Jorge Avilez que por estar no lado errado
da história ao obedecer os mandos de D.João ficou como vilão até mesmo difamado
na novela das seis da Globo, ainda que ele tenha até um museu em Portugal e
descendentes por lá o qual tenham similar reconhecimento nos setores que lhe apraz. A
história é o que a mídia relata condensadamente, a grosso modo, e quando ela
insiste na lavagem cerebral de que, muitas vezes, o oprimido é o vilão é assim
que fica numa história que nega em absoluto o quefazer análes que compreende a perceptiva não como uma verdade relativa, mas interpretação.
Nesse sentido poderia dizer que não sou tão diferente de um
Ayrton Senna ainda que longe de igual reconhecimento abertamente, mas que
sobretudo enquanto ele ia de helicóptero para uma das dez praias mais bonitas
do mundo, em Lopes Mendes, Ilha Grande, na costa verde do Rio, mas eu fui a pé. Por
isso ele está na história, mas eu não. Sobretudo, lugar de oprimido é servir o opressor, e não se aceita nada diferente disso. O que é verdadeiro incomoda, mas é a
mentira quem atrapalha.
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