Busco nos videogames o que não possuo na vida, controle. A oportunidade de me defender e ter alguma equivalência justa de combate, uma experiência de imersão narrativa catártica que assim alivie as pressões cotidianas com melhores efeitos do que a passividade de assistir filmes e séries mesmo que estes contendo críticas e reflexões sejam tão bons quanto. Procuro similar efeito terapêutico ao escrever expondo meus anseios, traumas, medos ao evocar críticas aos maus até criminosos que sofro. Todavia a experiência dos games quando em grupos online parecem criar um fenômeno igual ao visto em perfis falsos da internet onde o anonimato, acobertamento e ausência de limites legais são permissivos a abusos. É um padrão berrante e análogo ao visto pelo pesquisador que cunhou o termo 'Efeito Lúcifer' a algo parecido.
No sensacional Red Dead Remdeption 2 (jogo o qual considero o melhor até hoje, pela complexidade, realismo e detalhes) o modo on line é parecido a uma recriação do classicismo marxista, onde os que não possuem bandos, dinheiro ou experiência padecem nas mãos de quem tem pelo mero prazer de poder fazer contigo o que desejam. Ao contrário de regras de progressão de experiência por níveis o que havia parecia ser uma autarquia dominantemente cruel sobre os que não tinham o mesmo poder.
Ao passar por um lugar pantanoso perto da cidade Saint Dennis, fui emboscado por um bando várias vezes seguidas. Ao morrer e retornar o sujeito pegava meu pangaré sabendo precisar dele pangaré apenas para me emboscar novamente. Chegaram a me amarrar e depois de chutarem me mataram. Sem recursos tive que saquear corpos, roubar casas e enfim acabar reproduzindo a brutalidade sem nexo para me defender.
Noutra ocasião, um jogador me cumprimentou apenas para quando eu desse as costas me matasse. Ao voltar sem uma arma de qualidade mesmo após acerta-lo com cinco tiros eu fui morto por apenas um, isso quando não apareciam outros do bando pra não ter a menor chance de defesa. Visivelmente possuíam mais recursos, pelas roupas caras e cavalos puro sangue estavam jogando naquele modo há muito mais tempo que eu.
Confesso que não entendia a lógica ou coerência em "jogar" com alguém sem a menor chance de se defender senão a mera banalidade do prazer de fazer mal, o poder de brincar e fazer o que quiser com alheios sem poder se defender. Noutra parte do jogo, na cidade barrenta de Rhodes um bando simplesmente resolveu matar todos cidadãos da cidade, aqui eles ao menos me virar e não me mataram após me cumprimentar (penso eu ter sido aleatório). Totalmente alheio as propostas de missões do jogo, como missões em grupo, disputas de corrida, tiro ou caçada a ladrões eles simplesmente tendo a chance de simplesmente purgar e massacrar todos na cidade o fizeram por mero poder.
A experiência apesar de revoltante fez-me lembrar a série West World onde o homem de preto estuprava e matava as mesmas pessoas repetidamente apenas pelo prazer em si mesmo de fazer, apenas por poder fazer. Dos nazistas que julgados por atrozes atos não menos hediondos a discussão a cerca da perplexidade de como o ser humano seria capaz de tamanha crueldade por motivos torpes e sádicos paira a humanidade desde a antiguidade. Autistas, ciganos, negros e judeus mortos em execuções sumárias ou torturados em experimentos cruéis e trabalhos forçados sem terem cometido a maioria das vezes nenhum crime comprovado (tal como exatamente fazem comigo, meramente baseado em calunias intencionais e discurso de ódio ao incentivar a humilhação e crimes comigo) a não ser serem diferentes é algo que sempre me deixou consternado, apenas o poder como vício responde a questão, ‘O Efeito Lúcifer’ existe.